29/09/2012

de quando de tornei AMARela

A maioria das pessoas que me conhece pelas redes sociais me pergunta "por que 'Amarela'"? E nunca sei o que responder porque, na verdade, não sei em que momento da minha vida me tornei Amarela Cavalcanti. Então recorri a minha memória, que em alguns casos me é muito fiel, para ver se conseguia descobrir quando virei 'Yellow'. Lembro do meu namorado me chamar sempre de amarelinha, porque segundo ele eu tinha tal tonalidade na pele, mas na verdade acho que esse apelido veio por outro caminho.
Uma vez coloquei na cabeça que queria doar sangue, ajudar alguem e, quem sabe, me sentir uma pessoa melhor com isso, e decidi ir no HEMOPE. Assim que entrei na área da inscrição, um homem me olhou da cabeça aos pés com uma cara meio feia, na hora achei que ele estivesse me tachando de drogada e/ou prostituída, como uma neurologista tinha feito anteriormente (assunto para outro post, quem sabe). Entrei na sala de entrevistas e a mulher que me entrevistou perguntou se eu tinha tonturas ou desmaios. Fazia exatamente 1 mês que eu tinha desmaiado no ônibus a caminho de casa, por causa da labirintite que, até então, não tinha sido diagnosticada e eu estava fazendo exames para descobrir o que tinha causado o tal desmaio. Contei a moça que tinha tido um episódio há um mês e ela pediu que eu esperasse e saiu da sala, quando voltou veio com o tal homem que tinha me encarado de cima a baixo. Ele já foi entrando e dizendo 'Ah, é ela, é? Vi logo que não podia doar assim que entrou aqui. Muito amarelinha!', enquanto olhava minhas pupilas. Saí de lá toda triste por não poder doar. Pronto, foi suficiente para eu virar amarela.
Descobri depois que os desmaios eram causados por causa de uma labirintite braba que eu tinha. Logo em seguida comecei a namorar e meu namorado começou a me chamar de amarelinha e virei Amarela, o Cavalcanti é meu mesmo de batismo.

AMAR ela
AMAR é linha

12/09/2012

de infância e de cheiro...

Dia desses estava conversando com um amigo pelo twitter, amigo esse que nunca vi pessoalmente e que marcamos sempre uma cerveja (sem álcool para ele, com álcool para mim) que nunca sai da timeline, sobre hospícios/manicômios/hospitais psiquiátricos. Vocês não sabem, meus poucos leitores, mas tenho uma vasta experiência nesse quesito.
Vivi a minha vida toda com um tio, irmão de mainha, que era doente mental, vítima de uma febre reumática quando bebê que lhe causou sérios danos cerebrais. Como morávamos no centro da cidade e minha família trabalhava vendendo almoço, como foi relatado em post anterior aqui, deixávamos Nado (meu tio) internado num hospital psiquiátrico e a cada 15 dias ele vinha passar o final de semana em casa, nos outros finais que ele estava lá, nós íamos passar o domingo com ele.
Eu devia ter uns 7 para 8 anos, mas lembro perfeitamente do lugar, dos internos, do cheiro e de como eu me divertia lá. Tinha um jardim imenso na entrada e eu, criança, brincava horrores. Um dos internos, Sr. Vicente (sim, lembro do nome e do rosto dele claramente), dizia que da próxima vez que voltasse eu ganharia uma boneca de ouro e eu, CRIANÇA, acreditava e sempre voltava, mas nunca ganhei a tal boneca, porque será, né?! Rsrsrsrs
Tenho lembranças de quando entrava nos corredores e de como era triste ver pessoas naquela situação que, em alguns casos, era desumano. Lembro dos quartos/celas, de alguns pacientes, do cheiro, etc. E falar em cheiro, o que mais me marcou não era o odor forte de urina e fezes que permeava aquele lugar e sim um cheiro que não sei explicar como é ou com o que parece, só sei que é cheiro de hospital psiquiátrico e, volta e meia, eu ainda sinto quando ando por Recife e todas essas memórias voltam como um turbilhão na minha cabeça.
Disso tudo o que mais me encanta é o fato de mainha e toda a minha família nunca terem me 'poupado' desse tipo de coisa, muito pelo contrário, eles sempre me mostraram tudo que eu poderia lidar na minha vida e deve ser por isso que eu não tenho medo de um doido quando encontro na rua, afinal foram 26 anos convivendo com um.
Meu tio não passou muito tempo nesse hospital, que prefiro não citar o nome, porque além de ser uma clínica para doentes mentais, era uma clínica para dependentes químicos também e eles ficavam juntos, não eram pavilhões separados. Nado começou a fumar depois que ficou internado e, dentro do próprio hospital, sofreu uma agressão de um interno porque negou lhe dar um cigarro. Depois disso minha família o retirou do estabelecimento e decidiu não interná-lo mais.
Nado faleceu em julho do ano passado de morte natural, em casa e nos braços de mainha. Foi triste, mas foi um final bonito para uma pessoa que passou pela vida e, simplesmente, não viveu.

Saudades!
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