12/09/2012

de infância e de cheiro...

Dia desses estava conversando com um amigo pelo twitter, amigo esse que nunca vi pessoalmente e que marcamos sempre uma cerveja (sem álcool para ele, com álcool para mim) que nunca sai da timeline, sobre hospícios/manicômios/hospitais psiquiátricos. Vocês não sabem, meus poucos leitores, mas tenho uma vasta experiência nesse quesito.
Vivi a minha vida toda com um tio, irmão de mainha, que era doente mental, vítima de uma febre reumática quando bebê que lhe causou sérios danos cerebrais. Como morávamos no centro da cidade e minha família trabalhava vendendo almoço, como foi relatado em post anterior aqui, deixávamos Nado (meu tio) internado num hospital psiquiátrico e a cada 15 dias ele vinha passar o final de semana em casa, nos outros finais que ele estava lá, nós íamos passar o domingo com ele.
Eu devia ter uns 7 para 8 anos, mas lembro perfeitamente do lugar, dos internos, do cheiro e de como eu me divertia lá. Tinha um jardim imenso na entrada e eu, criança, brincava horrores. Um dos internos, Sr. Vicente (sim, lembro do nome e do rosto dele claramente), dizia que da próxima vez que voltasse eu ganharia uma boneca de ouro e eu, CRIANÇA, acreditava e sempre voltava, mas nunca ganhei a tal boneca, porque será, né?! Rsrsrsrs
Tenho lembranças de quando entrava nos corredores e de como era triste ver pessoas naquela situação que, em alguns casos, era desumano. Lembro dos quartos/celas, de alguns pacientes, do cheiro, etc. E falar em cheiro, o que mais me marcou não era o odor forte de urina e fezes que permeava aquele lugar e sim um cheiro que não sei explicar como é ou com o que parece, só sei que é cheiro de hospital psiquiátrico e, volta e meia, eu ainda sinto quando ando por Recife e todas essas memórias voltam como um turbilhão na minha cabeça.
Disso tudo o que mais me encanta é o fato de mainha e toda a minha família nunca terem me 'poupado' desse tipo de coisa, muito pelo contrário, eles sempre me mostraram tudo que eu poderia lidar na minha vida e deve ser por isso que eu não tenho medo de um doido quando encontro na rua, afinal foram 26 anos convivendo com um.
Meu tio não passou muito tempo nesse hospital, que prefiro não citar o nome, porque além de ser uma clínica para doentes mentais, era uma clínica para dependentes químicos também e eles ficavam juntos, não eram pavilhões separados. Nado começou a fumar depois que ficou internado e, dentro do próprio hospital, sofreu uma agressão de um interno porque negou lhe dar um cigarro. Depois disso minha família o retirou do estabelecimento e decidiu não interná-lo mais.
Nado faleceu em julho do ano passado de morte natural, em casa e nos braços de mainha. Foi triste, mas foi um final bonito para uma pessoa que passou pela vida e, simplesmente, não viveu.

Saudades!

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4 comentários:

  1. Textasso! Botou quente demais, mulé!
    Queops Negronski (o amigo "que nunca sai da timeline") :D

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  2. Negronski, vamos virar amigo da vida real! :)

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  3. Hey
    A clear informative post, thanks! I have enjoyed this contribution, Thank you again for writing
    With Best Wishes
    bedroom | sofa | kitchen | bathroom | living room

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  4. Muito sincero o texto. Tô na fila dos amigos virtuais. E tb sou o dos que amam a loucura. É minha vibe. Estudo a loucura até. Ah! E a seleção do mestrado? Te quero minha colega. Bjss

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